domingo, 13 de novembro de 2011

Vênus

Uma amiga cobrou que eu escrevesse, dias atrás. Eu disse que faria, mas que ela estava ciente de que cito pessoas em minhas histórias - fato! Acho que ela gostou, talvez também quisesse ser personagem do meu imaginário - fatos e personagens reais sempre são reelaborados em meu imaginário, ou que graça teria? Mas é fato que eu deixei passar a deixa.
Fato! Todas as vezes que deixo uma deixa passar, por mais viva que esteja naquele momento, ela se vai e não volta. Fica só um gostinho estranho, como aquele vivo sonho que temos e absolutamente esquecemos logo após acordar. Ao chegar em casa a pouco, parecia perdida, desencontrada de um sonho, de um despertar abrupto. Olhei de um lado a outro e não consegui achar o que havia de errado. Parece o jogo dos 7 erros: sofá tá estranho?, a carranca? o Gato? Até realmente estava diferente, tive visita em casa, então o sofá-cama estava fechado errado e minha cama cheia de travesseiros, lençóis e edredons. Mas arrumar tudo não me deixou tranquila, ainda estou perdida no meu próprio espaço, sem saber direito o que há e o que fazer. Às vezes isso me acontece e assusto, tenho medo de estar em pleno derrame cerebral leve e nem me dar conta. Mas passa, sempre passa!
Liguei a TV e me dei conta que deveria na verdade ligar o notebook. Liguei. Ninguém no msn, posso até ficar on line... rs. Um monte de email que nem cheguei a abrir, e um recado no twitter: dá uma olhada no meu blog. Pois não!
Alguém aqui sabe o que é fazer amor com Vênus? Eu fiz! Fiz, e só agora consigo entender um pouco do alcance do que eu tinha entendido apenas como um perfeito encaixe: o cheiro que se encaixa, o gosto que se encaixa, os sons, os movimentos, a energia que vira uma só, num desses momentos em que o tempo pára e nos deslocamos para um Universo privado e único, um lugar que eu nem sei se estive antes, e que não sei onde ou o que era.
Não, não era um encaixe perfeito que se descobria ali, gratuitamente e sem esforço. Era uma aliança que se formava. Um tratado. Sem palavras, sem expectativas, sem regras e acordos. O deus que há em mim reconhece o deus que há em ti, e era só isso: a coisa mais simples e completa que existe.
"... freqüentemente terás de multiplicar a tua multiplicidade, complicar ainda mais a tua complexidade. Em vez de reduzir o teu mundo, de simplificar a tua alma, terás de recolher cada vez mais mundo, de recolher no futuro o mundo inteiro na tua alma dolorosamente dilatada, para chegar talvez algum dia ao fim, ao descanso. O mesmo caminho foi percorrido por Buda e todos os grandes homens, uns conscientes, outros inconscientemente, na medida em que a fortuna favorecia a sua busca. Nascimento significa desunião do todo, limitação, afastamento de Deus, penosa reencarnação. Volta ao todo, anulação da dolorosa individualidade, chegar a ser Deus, quer dizer: ter dilatado a alma de tal forma que se torne possível voltar a conter novamente o todo." - de 'Tratado do lobo da estepe'.
Às vezes Sol e Lua se encontram. Por um momento se chamam Eclipse, e são um.