segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

The New Adventures of Old Suzanne

Ah, adorava Seinfeld. Muito!!! Por pequenos muitos motivos, maioria nem saberia elencar agora, mas diria por dois motivos básicos: foi uma das primeira séries na minha primeira incursão à TV paga. Segundo, a série era sobre nada.

Eu achava o máximo! Nossa, uma série sobre nada! E muitas vezes meu melhor amigo (que perdi contato) e eu passeávamos e discutíamos por horas sobre o nosso nada e o nada do mundo. Quando então comprei o carro, colocava cinco reais de gasolina (sim, sou do tempo que isso bastava) e dávamos grandes voltas pela cidade e muitos nadas aconteciam. Uma vez conversávamos sobre o livro que escreveria, sobre o nada de minha vida, e tentamos então definir qual seria seu título. Olhava as luzes dos postes abaixo- carro parado e visual lindo - as luzes de um céu perfeito e grande acima, e me ocorreu que escreveria para a luz. Ele: luz?!. Sim, oras, À luz do belo olhar que nunca veio. Eu tinha dezoito anos e sabia que tudo o que poderia escrever seria uma homenagem ao que nunca foi e nunca seria.

Mas Seinfeld era sobre nada e eu achava a série cult. Era meramente popular, mas achava inteligente gostar, e gostava de verdade. Então, de uma hora pra outra, vários anos de nada passados, eis que surge The New Aventures of Old Christine. Por Deus, Julia Louis-Dreyfus voltou! E fez o que nenhum Jedi faria: o melhor ridículo identificável do mundo.

Assisto aos episódios e cada maior absurdo e neurose me faz rir dos meus próprios defeitos e fracassos. Uma mulher confusa de seus sentimentos, desejos, ambições, incoerente na essência, confusa sobre a realidade da vida, indefesa quanto a crueldade de sua própria mente. Não sabe lidar consigo, com os outros, com o mundo. Insegura, indecisa, indeterminada, preguiçosa, perdida, bêbada. Debochada, ridícula, julgada, complexada, alienada, inconsequente, preceptada, vazia e sem nada de efetivo para dizer.

Eu a adoro! É a prova de que nada existe, nada sou, que absolutamente não posso me levar a sério, que sim, sou patética, que o mundo me devora e que sou só uma fraca e desprotegida. Ter a certeza disso, toda vez que assimilo isso por um segundo que seja, um grande alívio e paz me toma o corpo e a mente: não se levar a sério leva ao estado de Buda. Vou trocar minha imagem de Gandhi por uma do Bozo.

Pensando no nada ser, no admitir seus fracassos, na Christine e na Elaine (de Seinfeld), lembrei desse trecho do episódio de Old Christine em que ela declara ser independente, confiante, e absolutamente não precisar de ninguém. Ri muito da minha autosuficiência! Ah, tá! (e no melhor estilo Lucille Ball de ser, e que eu invejo).

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sim, eu te desprezo!!

É aquela rotina que se repete todos os dias: acordar, trabalhar, fantasiar sobre sexo no trânsito, fazer ou não fazer sexo, fazer escolhas. Escolhas, escolhas, tenho problema com escolhas...

Primeiro escolher quem eu sou, a imagem que eu tenho, o que eu represento às pessoas. Somos vários: como nos vemos, como nos vêem, como somos realmente. E isso gera uma série de desencontros, base pra grandes confusões, bons filmes europeus, algumas lágrimas, anos de terapia.

Enfim, escolhemos como queremos ser, e vestimos aquela fantasia que nos adere a ponto se de tornar uma nova pele. Roupa em cima de roupa, muitas camadas de você (olha eu com a síndrome da cebola de novo), e você é o que não é, imprime uma marca que não tem, vende um peixe que certamente vai feder: uma hora será cobrada por um personagem que, no íntimo, é apenas uma completa estranha que você não quer ser.

Mas vai, digamos aí que mantenho bem administradas todas as ilustres imagens, funções e personalidades. E banco muito bem paga a forte, inteligente, superior, que no fundo sabe que ali pagando de gostoso está apenas um merda. Ah, que delícia!! Não dizer nada e saber que ali, na sua frente, aquela figura patética sabe que você despreza e repudia aquela imagem mal vendida de bem sucedido.

É a tal da imagem superior. Quando você passa a vida se esforçando muito pouco pra ter reconhecido um certo talento, ganha grátis da vida uma certa aptidão pra arrogância dissimulada, as vezes descontrolada, acompanhada do arzinho superior, distante, intimidante e ausente. Mas é justamente essa silhueta de força e desdém o ponto fraco desta figura autônoma: o fodão-merda precisa destruir!

Certa vez assisti esse Saia Justa, que abaixo posto o trecho que me chamou a atenção. Sou vítima de um fodão-merda.  É um mix de assédio moral com dúvidas sobre minha própria capacidade. Mas acho que o grande barato de assediar moralmente alguém é sutilmente minar sua estrutura de forma sistemática e desapercebida e, em caso de reação da vítima, ter ainda a possibilidade de passar-se por agredido. Um grande talento, a brilhante arte da guerra, que nenhuma personagem minha tem, que desprezo, mas acho brilhante - baixo, cármico, mas brilhante: precisa ter talento pra ser malvado.

Eu olho pro meu personal fodão-merda e sei que ele sabe que eu sei que ele é uma figura patética. Ele, por sua vez, tem o talento de abafar o meu, quase um travesseiro que me sufoca. É cansativo, exige que eu me esforce muito mais para reafirmar que posso muito mais, me deixa as vezes exausta. Por hora, o fato de eu estar no jogo significa que eu tenho ganho as partidas. Por outro, por que mesmo estou jogando?

É a sutilidade, a crítica velada, a palavra não dita, a dissimulação, que gera o grande ódio do qual quase não mais consigo escapar. Uma vez numa discussão, minha mãe disse à sua oponente: "Não vou te dizer um ultraje, mas penetra no meu pensamento e sinta-se ofendida da pior maneira possível". A mulher enlouqueceu, ficou altamente humilhada e ofendida. É brilhante! A palavra não dita é a que mais ofende, maltrata e nos consome a alma. Por outro lado, é a que provoca as reações mais agressivas, sistemáticas e de longo prazo. Acho que o arzinho de superioridade me tem colocado em risco. Tá na hora se sentar pra uma conversa franca com meu ilustre fodão: vai tomar no cu, seu merda!










segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sexo verbal não faz meu estilo (mentira!!!!!)

Tanta coisa que poderia ser dita hoje: do gozo tido, do contido, dos medos e aflições do dia seguinte, da mania masculina de achar que sexo a força é válido - NÃO, NÃO É - das amizades, similaridades e divergências, gemidos. Ah, sim, poderia falar de gemidos: a sincronia da respiração, o som que invade, antagoniza com toda a razão, domina e leva, induz, conduz e ensina. Ah, os gemidos: os pedidos, os suplícios, a palavra não dita, os segredos revelados, a música que invade e leva pra lá, bem lá, onde ninguém mais entra senão pelo mesmo som, desejo e harmonia.
É, hoje não to romântica! Não falo de gemidos com desejo, apenas cumpro uma certa tabela que não me excita. Deve ser assim com os homens e a mania de falar em sexo: não o fazem  por real excitação e desejo, mas para cumprir tabela máscula. No fundo é vazio e desnecessário. É, hoje tô pra outra coisa.
Dia atípico: notícias estranhas, amigas abertas, segredos ditos, segredos não ditos, impotência e confusão. Não posso resolver, não posso amar, confesso o que não ligo, nego até a morte o que posso. Um desses joguinhos suzannísticos que tão bem sei, que só eu determino as regras e que sempre, sempre, sempre, indubitavelmente, perco.
Indubitavelmente! E eu rindo aqui, palavra engraçada, de onde saio com essas? Ai, ai, o que nesse mundo é assim tão formalmente incontestável? Nem eu, muito menos eu, absolutamente eu que não. Sou patética, dessas tímidas que se encolhem e emudecem, pudicas e preservadas, ao som de qualquer questionamento. Digo sim, mudo de idéia, cedo, rasgo, creio que de verdade decepciono. E quem espera de mim uma grande heroína de folhetim lésbico, encontra enfim a mocinha amarrada aos trilhos, pronta para ser salva. Toda heroína precisa de outra, e meu peito não é de aço. Não, é pura manteiga! Só que não choro, só sangro, e isso é muito introspectivo.

"O amor me pegou e não descanso até pegar aquela criatura". Essa música não me sai da cabeça. Escapei do morno um pouquinho, duas vezes,  minha mãe chama de masturbação mental, ainda que se referindo a outra coisa - pensar bobagens - eu chamo sei lá eu de quê, de me aventurar nas verdades que há em mim, e que brocham a cada vez que a realidade se estampa na minha porta. Porque eu não posso ser real quando a realidade me acompanha. Não posso ser real de carne e osso, é demais pra mim, a realidade é meu personagem e não posso corrompe-lo. Não esperem que realmente eu seja o que sou - não, eu não sou. Eu sou morna, confusa, vazia e assustada, apática e triste. Eu não sou uma figura espirituosa, aberta, franca e no controle. Mentira! Tenho tudo tão guardado em camadas, camadas de cebola, dessas que fazem chorar... então não mexo, reservo. Me reservo ao direito de ser nada!


Mas será? "Será que ela quererá, será que ela quer, será que meu sonho influi? Será que meu plano é bom, será que é no tom, será que ele se conclui?" Conclui nada, mas eu penso, é de graça, é gostoso, e eu conto. Conto pq todo mundo gosta, diverte a mim, aos outros, rio dos meus próprios causos e mantenho a cebola intacta. Ninguém chora. Minha mãe diria que quem poupa o lobo sacrifica a ovelha. Mas se o homem é o lobo do homem, digo que sou eu mesma a loba de minha ovelha. Sou minha maior inimiga, e disso não abro mão.
Mas sexo verbal faz bem meu estilo. Palavras ditas, palavras ao vento, palavras que se conduzem sozinhas, que permeiam, floreiam e trazem promessas. Essa é a melhor hora: a palavra dita, a escondida, a esperada. Sim, eu acredito no verbo, sou puro verbo, vivo dele e pra ele, e sem ele nada sou. Eu sou verbo, não queiram mais de mim. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam".

Sexo verbal não faz meu estilo... Mentira! Adoro a música, mas me recuso a mentir. Sexo verbal é bom, eleva a alma de um corpo que apenas sustenta. "Não quero lembrar que eu erro também. Um dia pretendo tentar descobrir porque é mais forte quem sabe mentir. Não quero lembrar que eu minto também..."
"Mas o poeta é um fingidor! E os que lêem o que escreve, na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm"


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa - reprodução










por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
João 1:1-5
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
João 1:1-5
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
João 1

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Momentos

As vezes algumas músicas representam momentos. Ao ouvir esta música pela primeira vez, senti uma certa nostalgia, uma saudadezinha de algo que nem tinha vivido, uma certa ausência dessas que todo mundo sente e nem sabe o porquê.


Acho que, no fundo, somos vazios e insatisfeitos por natureza. Arrisco a dessa vez colocar no plural e não falar só por mim. Me parece mais uma dessas coisas da natureza humana, que faz com que a Suíça tenha um alto índice de suicídios: a vida não pode ser certinha demais.
Precisamos de um contraponto, um contrapeso, uma contrariedade. A adversidade nos humaniza, nos faz acordar, sair da cama e viver. Se para tal não houver lutas, definhamos e morremos.
É, precisamos de um sofrimento. Chorar por amor, por perdas, por derrotas, por fracassos. Precisamos sofrer pra saber que estamos vivos. A depressão nos acalanta e mobiliza. É sempre no fundo do poço que encontramos o alicerce dos nossos maiores impulsos e avanços.
E músicas nos representam momentos. Nem sempre nos dizem o que querem dizer, muitas vezes nossos corações sabem dar sentidos que sentidos outros não sabem. Essa música de despedida representa pra mim, ao contrário, um momento de reinício. Claro que no final das contas faz todo sentido, um ciclo que se fecha e outro que se abre, as boas vindas sempre acompanhadas de algum adeus. O que importa é que esta despedida me traz a boa sensação de "clear day", de ar com eucalipto, brônquios expandidos. Respirem fundo, deixem o ar entrar pelas narinas, sintam a vida em cada poro: o dia nasceu! Corram, vejam as boas novas. A vida recomeça!!!
E falando em Clear Day, lembrei de Barbra Streisand. Então ambas ocuparão o post de hoje. São tudo o que sinto agora...

domingo, 4 de dezembro de 2011

Quem tem medo do lobo mal?

Predadora, eu? Li tal e, num primeiro momento, achei que sim. Depois reafirmei o que sempre soube: não, eu não sou! Eu não caço, observo. Não cerco, acompanho. Não ataco, só concluo. Não, eu não sou uma loba! Sou uma dessas forças da natureza que vez ou outra ganham uma oferenda, um sacrifício!
Deve ser isso. Fazer amor não é devorar uma presa, mas uma ritualização divina. É conectar-se cosmicamente aos deuses e esgotar todas as possibilidades físicas de prazer. Isso é êxtase: esvaziar-se até ser o próprio Universo.
Ok, ok, eu mordo, e eu domino, eu consumo por inteiro e não deixo outra escolha que não seja a de total entrega ao momento sublime de um gozo perfeito. Tenho, sim, um lobo em meu peito, fechado em convenções e segredos, escondido e revelado nos momentos de profundo sacerdócio. Mas de que é capaz um lobo qdo em seu caminho atravessa uma mulher com uma leoa em seu peito?
Divina desgraça é a mulher! Que se deixa levar, seduzir, amar, que se entrega totalmente ao sacrifício do corpo, sabendo que todo ele, e sua mente, sua alma, se encaixarão ao desejo de seu algoz.
Divina tormenta é a mulher! Seu cheiro, seu gosto que harmoniza seu desejo ao outro, que reprime seu animal, que se deixa esgotar em prazer, dor e ânsias, que pede por mais, que sabe que pode, que consegue, que tem.
Divina dominadora é a mulher! Sua dissimulação em presa, sua entrega em sacrifício. A passividade ao ser consumida por um lobo. Sua leoa ronrona caprichosa, unhas guardadas, apostos, sorridentes: hora dessas sangram! É da índole da leoa ser leoa, e todo lobo o sabe!