quinta-feira, 12 de julho de 2012

Estamos indo de volta pra casa

É! Nascemos, crescemos, morremos e, enfim, voltamos pra casa. Vasculhamos, desejamos, rompemos, mas todas as conquistas, novidades, ambições, alegrias e tristezas, nos trazem de volta a nossa base. É como se o mundo girasse em torno de sua base e princípio, numa elipse centrífuga, e voltasse pra sua origem. Como se a vida se voltasse ao pecado original, ao útero, a mãe, a mulher.

Tudo isso pra dizer que voltei pra casa e me sinto livre, ao contrário do que sempre pensei que ocorreria. Veni, vidi, vici, fiz tudo o que fiz, o que quis, amei, fiz amigos lindos, conquistas profissionais, autonomias, felicidades, e volto pra casa com conquistas, sorrisos, marcas e eternas histórias a serem contadas. Como Césares, conquistar o mundo é a razão de voltar para casa. E eis-me aqui, bolsos cheios de mundo, sorriso cheio de mundo, e o regresso.

O amor estabiliza, centra, e acho que por isso não preciso mais ficar vasculhando e desbravando à procura do meu Santo Graal. Já tenho meu cálice, meu útero, meu porto seguro e posso regressar. Não a nada mais a ser procurado.




sexta-feira, 4 de maio de 2012

Kafkando

Quem nunca entendeu Kafka de dentro pra fora que atire a primeira pedra. Quem nunca acordou uma barata pare agora de ler, pare até de viver, algo de errado há com você. Sentir-se desprezível, um verme, um completo idiota faz parte da vida. Descobrir que não está em sintonia, que Maria ama João, que ama Ana, que deveria amar ninguém e não ama mesmo faz parte da vida. Passo uns dias de Kafka desde quarta. Olho no espelho e aprecio com certo asco as patas finas e serrilhadas, o abdômen frágil pronto a explodir em gosma amarelada à primeira pisada, as asas cascudas que se movem num barulho estranho. O cheiro é que incomoda, de inseto, de Baygon, eu sei lá.

Pacato, meu filhote loiro e rosado, é caseiro, vai a varanda pegar um Sol, se emaranhar na mangueira enrolada, mas volta pra se enroscar comigo e dormir. Lambão também adora dormir aos meus pés, mas gosta de grandes voltas sei lá por que telhados - nunca no chão.

Penso em voltar  ao método Vidal para assimilação da passividade, agora módulo 2, consistindo em manter as unhas feitas, mas afiadas. Tenho vontade de rasgar coisas, ver sangue brotando discretamente da frágil pele, e continuar ignorando a louça. Ignorar a louça é um dom que me causa aquele mix de orgulho e vergonha: é como ter super poderes, mas ser uma pessoa modesta demais para se vangloriar deles. Sou a Clark Kent da arte de fazer nada. Uma vez me perguntaram por que Superman usa um S em seu uniforme. Pensei um pouco no assunto, na época ainda não tinha SmallVille pra responder, então me ocorreu que os adjetivos valem mais que o sujeito, que ser super é mais importante que ser homem. E podemos ser super em muita coisas, medíocres em outras, mas nunca seremos o que o outro deseja, espera, muito menos ocuparemos um espaço já ocupado por outro. Ah, corações e seus donos... Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, e pra isso nem superman da jeito.

Mas me orgulho de kafkar, de as vezes tomar consciência, queria até alguém que kafkasse comigo, que entendesse, que gostasse. Gosta de tudo o que eu gosto? Sim! (Ufa, enfim!!!)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Esquecimentos

Ela ainda se lembra. Gostava de ir a escola com uma bermuda jeans, a qual dobrava a barra para encurtar. O curto de sua bermuda é o longo das meninas de hoje, mas ainda assim a inspetora de alunos uma vez a fez desdobra-la. De sempre dobrados as duas partes do jeans tinham cores desiguais, e aquilo pra ela era puro constrangimento. De tanta pressa em sair para o páteo e dobrá-los de novo, caiu do último degrau com ambos os jooelhos ao chão. Nunca foi de dobrar os joelhos, mas sempre tinha pressa.

Lembra do cheiro de dama da noite, do rádio que ouvia junto à Lua, do pensamento longe, da fantasia de dominar os ventos, da expectativa em vê-lo, do medo do beijo. Ele era pouco mais alto, pouco mais velho - o que pra idade era muito -, tinha a pele morena e um jeito tipico latino de malícia e sedução. Suas mãos eram espertas e sempre encaixadas, e sua boca macia, muito, e quente. Usava aparelho nos dentes, ela tinha vontade de senti-lo com a língua, mas tinha medo - só depois de adulta foi realizar essa fantasia de circular a língua por um aparelho dentário. Nem sempre ia vê-la, nem sempre ela lhe dava atenção, mas até hoje o cheiro de dama da noite a excita.

E pensava nisso enquanto a taça de vinho branco esvaziava-se: no tempo! Vivia do tempo, em combate-lo, em distrai-lo, em não dar-lhe descanso. Estava cansada. Por debaixo da mesa de jantar de vidro via o tapete cru, o piso claro, e ao seu redor um silencio clean de luz branca e fria. Sempre se reconfortou no espaço vazio. Ela deixou tudo à mesa, prato, taça, revista, e foi escovar os dentes. Ele não, dobra o jornal, retira se prato, enxagua, põe na máquina, pega novamente o jornal e senta-se novamente em sua cadeira na sala de jantar. Do quarto ela parece vê-lo, muito alinhado em seu roupão verde, e mocassim nude de couro macio e aveludado. É um homem limpo, alto e estreito. Ela não entendia muito bem como se casou com um homem de óculos de armação grande e de grife, muito menos como se tornara um mulher de pijama risca de giz e pantufas. Odiava pantufas, mas naquela noite quis fazer amor sem tira-las.  

Ele a conhecia, sabia, não errava. Ela se sentia como um mapa na mão de um cartógrafo, estava descoberta, exposta, e aquilo também era seguro. Era bom saber-se entendida e dominada, não lhe passava pela cabeça ser desbravada como terra de ninguém. Tinha nome, classificação e um standard cravado em seu monte.  Olhou para o teto branco, as paredes brancas, gemeu contorcida, determinando-se em pinta-las. Um centímetro de ponto preto em movimento na quina da parede a estarreceu. Uma aranha. Não, uma aranha capturando uma mosca. Não, não era possível, também não era possível que seu quarto fosse âmbar, mas aquilo não saía de sua vista. Quando por fim gozou, sentiu pena da mosca já fechada em casulo, mas era linda sua aranha. Não, não mudaria a cor das paredes de seu quarto, mas adoraria lâmpadas novas. Por fim, tirou as pantufas e sossegou-se. Dormiu esquecendo mais um tempo que ía.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Passagem

Gosto de gostares, poucos, e um dos meus gostos é estar no metrô da Sé ou da República umas 23h30. Ontem o fiz, na Sé. Me faz lembrar coisas que fiz e não faço mais, coisas que fui e não mais sou. É um momento e horário em que gosto de ver gente, são interessantes: os estudantes que voltam pra casa, as namoradas que se despedem nas baldeações, a galera que volta dos happy hour nos barezinhos GLS levemente over encantadores dos quais até sinto falta, conversas, cansaços gostosos... Gente muito boa a galera do metrô da Sé às 23h30.

Curiosamente, sempre tem uma despedida lésbica em alguma escada ou entrada de vagão. Um desses beijos curtos, mas honestos, que me fazem sempre olhar fixamente. Ainda não sei muito bem o motivo: cumplicidade, curiosidade, surpresa, inveja, reprovação. Nunca beijei assim em público. E ao escrever nunca, até parei pra pensar melhor no assunto. Nunca? E continuo aqui pensando, mas não, acho que não, acho que me dei por satisfeita em beijar em bares, sem contar que minha mãe acha que intimidades assim, gay ou hétero, são desnecessárias em público.

Então eu olho! Aliás, olho tudo: o jornal do cara ao lado, presto atenção descaradamente na conversa alheia, leio junto as mensagem no celular. Sempre fui fácil de distrair, todas as professoras em reunião com os pais diziam isso, e sou assim até hoje. Divago ao menor sinal, durante aulas, durante conversas, escrevendo, divago nas divagações. Mas divagar durante conversas sempre foi o pior: ouço, ouço, ouço e ouço nada, de repente uma palavra-chave que me puxa de volta e eu: não entendi, repete essa parte!!! Não é digno, claro, mas sou eu. Pior quando a história se conclui e fica aquele segundo de silêncio onde se espera minha opinião: as vezes sou um vazio honesto e óbvio, outras sou uma tangente inteligente, o que e fácil, pq parece que os assuntos são os mesmos, o mundo gira em torno de si e sempre volta. Pelo menos me mantenho fisicamente disponível: outro dia vi um amigo começar a girar uma bolinha de gude na mesa, durante um atendimento, e fiquei aliviada em ver que não sou um caso perdido.

No final das contas, ontem me dei conta que adoraria trabalhar a noite. Sair para trabalhar às 23h30 via Metrô da Sé, ver pessoas e suas mochilas cheias de expectativas, as lesbiquinhas cada vez mais jovens cheias de amor e atitude, e voltar pra casa no fim da madrugada, quando o metrô reabre, os encapados matrix voltam das baladas, os meninos se recostam, os pálidos conversam, e os cosplayers circulam sem serem notados. É em momentos assim que sinto vida entrar pelos pulmões.

É, amo São Paulo!


sexta-feira, 30 de março de 2012

Que Suzanne?

A certeza de que serei uma memória esquecida me ronda e a súbita sensação de inexistência me deixa insone.

Eu penso! Penso, aliás, coisas. Em por do Sol de outono, em gatos deitados na grama em fim de tarde de Outono. Penso em bancos de praça, em você, em mim, na certeza do nunca, no medo do talvez.

E ouço sua voz em rotinas, como quem enxuga a louça que lavo, como quem resume seu dia antes de dormir. Não, nós não dormiremos. Os gatos dormem, você dormirá, e eu sentinelo este momento, como se meu piscar desse ao mundo a oportunidade de orbitar em normalidade. Eu me recuso! Não quero o normal, não quero acordar amanhã e me rever lúcida. Quero esse revirado, esse mexido, o vasculhado de mim, o escancarado. Quero até todos os medos zanzando em minha cabeça, e esse súbito de que a felicidade certa de hoje será a lembrança amena de amanhã, um olhar vago de passado, uma névoa que dissipa e some. E quando perguntarem de mim, onde ando, o que virei, em sua mente apenas um franzir de testa: "Que Suzanne?"

Que nunca mais eu durma! Liguem as tvs, os alarmes, soltem as trombetas, os bebês assustados, os cachorros. Gritem e protestem. Batam panelas. O mundo não pode voltar ao seu eixo. Me deixem correr, me deixem lutar, me deixem enlouquecer: quero um mundo ao contrário. Quero que o inevitável morra.





quarta-feira, 14 de março de 2012

Cadê você pra fazer de novo quando parar de doer?

Entro em casa e os gatos vão bem: alimentados, brincando, distraídos. Até fazem certa festa, mas fico feliz em perceber que Lambão não se sentiu só, que está feliz com sua nova companhia.

Einstein diz que loucura é fazer as mesmas coisas repetidas vezes esperando resultados diferentes. Bom, isso eu vi assistindo Big Bang Theory, não sou especialista em citações de internet, muito menos em Einstein, só sei que me dei conta que todos os dias eram dias que passavam em branco, em deduções protegidas pela obviedade alheia, na inteligência da zona de conforto, dos relacionamentos vazios e seguros. Ocorre que o óbvio e seguro não traz a felicidade maior que o da ração nossa de cada dia, e eu já não me basto. Não quero mais ser o ápice da minha existência, nem a protagonista do meu humor, ser a única que me diverte. Não quero mais ser a pessoa a quem mais admiro, nem quero me entediar com os outros: quero você! E você é o que de mais diferente eu poderia ter, e por você, Einstein me fez mudar minha realidade.

Não me parece irreal fazer as malas e voar, não me parece absurdo não estar no meu solo firme. Gostar dos gostares, gostar dos amigos, sentir-se em casa e livre, tremer no primeiro beijo, no segundo, no terceiro. Sorrir dos sorrisos, arrepiar ao toque, abraçar à luz da Lua. Deixar cair todos os véus e ver-se virgem em sua própria verdade. E ninguém deveria se privar disso - aí está o princípio da vida!

E cada toque é um novo sentir, cada dor é mais verdadeira, cada gozo é mais claro e nítido, cada beijo tem em si o alívio de se fazer o que se deve fazer. Fecho os olhos e ouço as gargalhadas, os gemidos, os olhares que se consomem e entendem. Ouço os toques, os abraços, os suspiros, ouço o que foi dito e o não dito, ouço todas as verdades que saltaram aos meus olhos que nunca viram antes: era um nascimento, um casamento, um pacto.

E em casa, os gatos bem, as coisas em ordem, a vida toda justa e perfeita, me salta à vista a pergunta da qual por toda minha vida eu fugi: Cadê você pra fazer de novo quando parar de doer? Jogando tudo pro alto, benzinho!




segunda-feira, 5 de março de 2012

Paca, tatu, cotia não!

E a capivara me fez escrever. Vi uma morta na entrada de São Paulo, logicamente atropelada, o sangue rosado escorrido das narinas, e um rapaz tirando uma foto com seu celular, talvez abismado com aquele bicho estranho. Senti pena. Pena pq o bicho sobreviveu ao rio sujo, à fome, às doenças. Deveria ter sentido pena do rapaz que tirava a foto: por não ter tido infância, por não ter respeito, mas por ele sinto certa indiferença infame.

Não me importa que pessoas morram. Num crescimento endêmico como o nosso, morrer é comum como respirar. Digamos aí que somos já 7 bilhões no planeta, de todos os sexos, cores e raças, nascemos e morremos aos milhares e isso não muda os números, nem a vida que segue. Não me importo que relacionamentos acabem, o próximo é sempre melhor. Sempre! Mas os bichinhos inocentes perdidos nesse mundo besta, ah, isso me choca!

E continuei meu curso indignada com as mortes bestas provocadas por uma vida sem sentido. Alguém vê sentido em alguma coisa? Nós continuamos a vida pq a vida condiciona, catequiza, mas eu duvido que alguém viva por entender o sentido do viver. Admito viver em uma Matrix, admito que não entendo o universo em que estou inserida e que faço parte da massa que mantém a estrutura atual funcionando. Minha vida é voltada a manter o estado das coisas, e disso sinto orgulho e culpa. L'etat c'est moi, represento sua vontade, os interesses sociais, e minha função é causar a sensação de segurança e normalidade. Sensação! Abstrata como o Estado, abstrato como vc e eu.

Mas não podemos cotiar - eu adoro! Adoro mudar de idéia, enjoar do que to fazendo, deixar pra trás. Talvez por saber que vou mudar, penso muito pra tomar decisões. Não por insegurança, mas por pena das opções preteridas. Sempre tenho ótimas opções a fazer. As vezes faço escolhas e vejo as outras opções se desfazendo na inexistência. É como abortar possibilidades, coisas que poderiam ser e não foram. Adoraria que os universos paralelos existissem. Assisti "o efeito borboleta", não compro pra não enlouquecer, mas adoraria que essa realidade fizesse parte da ficção que vivo hoje.

Adotei mais um gato, filhote, e Lambão adorou. Emburra muito, mas pulam e correm pela casa toda numa felicidade só. Isso sim é real e tangível, diferente de qualquer possibilidade de escolha que façamos.

Gosto de fingir que faço escolhas. Essa semana viverei uma, um pedacinho de universo paralelo, só pra sentir que estou viva. Sensação. Estar viva também é abstrato!





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Alienada!

Minha mãe me chama de alienada. Sou uma alienada incorrigível, graças a Deus. Num dos meus vexames de alienação, minha mãe falava com minha avó sobre Erenice e eu orgulhosamente enchi o peito e respondi: essa eu sei, é a mulher filha de desembargador que matou os pais. "Minha filha, faz o que você quiser da sua vida, mas assista ao menos o Jornal Nacional. É só meia hora!".

Meia hora! O que meia hora pode fazer conosco? Hoje assisti o Jornal do SBT, confessadamente sem querer. Era umas 19h30, vi as imagens de uma moça levando um tiro no rosto, o cara enfiando uma faca no peito, um corpo numa escadaria qualquer, dez caras que estupraram cinco moças e mataram duas durante festa numa chácara. Ah, sim, o inferno são os outros!

Escrevi exatamente essa frase num comentário de post da Natália Klein (www.adoravelpsicose.com.br). Aristóteles nos jura sociais. Rosseau nos arrumou até contrato. Por isso sou amor, sou esperança, sou Sartre até morrer: "O inferno são os outros".

Mas inferno, inferno mesmo, é relação com mãe. Gente do céu, que deve ser por isso que eu adorava a Cuca: a jacaroa nasceu de um ovo! Adorava também Angela RoRo cantando a música da Cuca no LP Pirlimpimpim, me dava medo e excitava, e deve ser por essas que sou lésbica e adoro rabo (ai, escrota!). E deve ser a relação com minha mãe que fez de mim uma amputada de vontades.

Minha família materna toda é estranha. Meus avós moravam em outra cidade, visitávamos pouco, tinha pouquíssimos anos e aquela gente estranha que falava com sotaque confuso e eu, sem nada pra fazer, ficava olhando o lustre da sala, antigo de fazenda, preto, de ferro fundido. Fundida tava eu, ali amoada e perdida, com minha avó cutucando minha mãe: "verifica se não é autista!". Ai, ai, aposto que minha mãe também queria ter nascido de um ovo. Tal mãe, tal filha, e por essas e outras não terei filhos. E acho muito solene, profundo e muito meu o final de Mémórias Póstumas de Braz Cubas. E nem ligo de ter um epitáfio parafraseado: "Não tive filhos! Não transmiti a ninguém o legado de minha miséria". Lindo!

Mas enfim, estar com a família é ter um momento 'olhando o lustre'. É melhor não falar, é melhor não pensar, é melhor alienar-se. Melhor esquecer. Esquecer o corte pigmaleão que tive que suportar, principalmente. E todas as vontades dela que tinha que cumprir. O gênio ariano, as brigas, os controles, as invasões de minhas quietudes, as vergonhas públicas, os "palpites" repreensivos. Até hoje estar com minha mãe é ter que falar quando não quero. E mesmo falando 'muito', depois de avidamente inquirida, minha mãe me olha chateada e preocupada, triste pela falta de comunicação, e diz: "você está deprimida?". Não, tô autista!
E eu to alienada pro mundo, com muito prazer. Não, não quero intimidade. Não, não quero riscos. Não, não quero me envolver, não me importo. E sim, conto mentiras brancas. As mentiras brancas, segundo um filme que vi e não lembro o nome, são aquelas que contamos sem ficarmos vermelhos. Traduzindo: na verdade, to me jogando pro mundo afetivo de olhos fechados e braços abertos! Hj era pra estar falando de fadas, anjos e possibilidades de paraíso, mas... Vejam só o que meia hora de realidade pode fazer conosco! Meia maldita hora!
E como mencionei Natália Klein e relação materna - mãe, te amo! - deixo aqui o episódio de Adorável Psicose que me fez rir muito, reproduziu meu mundo! Gente, mas é muito a relação com a minha mãe. Perfeito! Até assusta! E em homenagem à minha mãe e ao volume vertical que ela tanto adorava em mim, segue meu novo corte de cabelo. E a vida segue!



terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu não paro!

Minha mãe é agressiva. Ela não pára uma briga até vence-la. Se ela gritar e você parar, ela pára. Se retrucar, ela cresce, sem parada, limite, nem medida.

Um sangue de minha mãe corre em mim, e hoje ferve e implora que eu me liberte. Um sangue que não se submete, não se cala, não se oprimi. Um sangue que não se omite por medo, que não é blasé, ou lacônico - minha mãe me chama de lacônica, porque sempre tentei ser coqueiro onde me queria revólver. Mas não hoje.

Hoje meu sangue ferve e grita, explode em verdades que saem de meu coração de salto e sem susto. Não sei pra onde vão, só sei que vão, e sei que estão sendo notados. Tenho medo! Mas me revolta viver de forma morna e isso não quero mais. Quero apontar as verdades sublimadas, abrir feridas omitidas e consertar o mundo do jeito que me propus e me deixei vencer. Quero justificar minhas escolhas pelas convicções de outrora que claramente estão em mim hoje, e não pela preguiça de muda-las. Cansei da apatia do talvez, do não quero, do não sei, do não posso, do não ligo. Sim, eu me importo! Tudo em mim está aflorado e claro, e quero mais. Quero cheiros, quero o toque, o gosto, os sons, os nãos e os sim, todos dolorosamente arrancados, pedaços de pudores que saem como pele trocada - outra por baixo ressurge, como um belo renascimento, um renascimento pra mim.

E eu a quero minha. Eu me quero pra mim! Porque eu gosto!! Gosto de sentir essa tensão logo acima da pele e a respiração que se alonga e parece querer alcançá-la. Gosto do não, do proibido, do duvidado, da insegurança. Gosto da violência que a dúvida te provoca e me excita a idéia que eu te deturpo: eu quero sacrilejá-la toda! Quero tirar de você essa pele que te cobre e quero que doa, muito! Quero que renasça com essa raiva e fome que tenho agora. Que me agrida por te machucar. E entenda que te amo!



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tô fazendo falta - cartão vermelho!

Ah, sim, o amor!! Há quem suspeite que eu não ame, há os que jure que nem gente eu sou... mas sou o que sou, e sou dos amores perdidos, revirados, abandonados, desistidos, acovardados e muito, muito bem vividos.
Lembro do meu primeiro amor. O primeiro amor de verdade, aquele já adulto vivenciado de forma infantil. Sim, pq sempre vivenciamos o primeiro grande amor de forma desastrosa, pra termos uma vergonha pra chamar de nossa e nos acompanhar por toda a vida. Sinto muita coisa do meu primeiro grande amor ainda: frustração, saudades, sorrisos, agradecimentos. Acho que sinto principalmente nostalgia: da genuidade que nunca mais vai existir, do coração que pulsava de verdade e do sorriso que ria sem armas. Sinto até hoje o cheiro de CK One e a respiração até por um segundo pára: ela me deixou, isso não volta, nunca acaba, e não tem escapatória.

O que se segue disso é um mosaico de relacionamentos, amores e destinos. Um amigo faz mosaicos, e sempre brinco os chamando de craqueladinhos! Sou uma craquelada de mim tbém, um mosaico de peças finas, raras e quebradas, marteladamente quebradas. Sou a colcha de retalhos que minha mãe fazia pra mim quando era criança, e que até hoje não acho igual: coisas que se perdem na vida!

Mas a vida seguiu, graças a Deus, e deixou lembranças - puta, que merda! Queria muito saber quem a vida pensa que é pra deixar lembranças. Alguém precisa dizer pra vida recolher acampamento quando segue. Coisa mais farofeira essa de seguir a vida e deixar o campping cheio de marcas, restos. Puta zona! A vida é muito cafona! Claro que me pergunto se a vida é assim também na Europa. Duvido! Aposto que a vida na França sai a Francesa quando segue, discretamente e sem escândalos. Um luxo!!!

Enfim, a porra da lembrança tá aqui, espalhada até hoje, largada por essa vida besta, prontinha pro compartilhamento. A sacanagem em tomar um pé de seu grande primeiro amor em 1999 é que Joanna lançava seu CD de 25 anos de carreira. Nele, tinha o grande sucesso da época - Tô fazendo falta - que quase me fez rasgar os pulsos, me isolar do mundo, toca-la na ida e volta da faculdade, batendo no volante do carro como se não fizesse a menor diferença - e não fazia. Claro que foram meses de tristezas silenciosas, dessas que amarguram a mãe e deixam os irmãos assustados. E eu ouvia a música, vivia a música, chorava a música, reprovava em Direito Penal 2 na música. Ah, 1999, como você demorou pra acabar, seu lindo!
Eu queria muito acreditar que fazia falta - não, eu não fazia, mas queria! E é claro que eu gravei um CD só com essa música e lhe enviei, pq queria que tudo o que doía em mim fizesse materialidade pra ela. É, eu fiz falta, meti logo um carrinho na pequena área, cartão vermelho pelo papel de ridículo. Ainda bem a vida seguiu - quem sabe na próxima ela levanta acampamento sem alarde?


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ela

Eu a olho, intocada pra mim. Fecho os olhos e a cada piscar sua imagem está lá, minha. Todos as noites penso que vou dormir, mas quando meu corpo branda e a respiração serena, é teu cheiro que sinto. Um perfume suave que me entra às narinas e entorpece a alma, sua, sempre. Sinto o seu beijo, levemente molhado, levemente puro, sentido. Você beija sorrindo e minha alma se abre como uma flor dócil, ela também sorri pra você. Sinto seus dedos seguros que se entrelaçam aos meus, sua pele alva que por pouco não suporta as veias que pulsam em seu colo eriçado.

Gosto do seu sorriso, gosto que me faça sorrir. Gosto das noites insones tomadas pelo teu cheiro. Gosto de tudo o que não gosto em você, do Sol queimando a pele, das brincadeiras de casinha, da perfeição irritante que me faz temer as falhas que não vejo. Gosto da sua inexistência, da sua permanência em minha alma, da certeza de que nada se consuma, e que assim a terei sempre minha. Você nunca sairá de mim!




segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Afasto

O despertador toca. Todo o dia toca. Todos os dias ela acorda, um acordar preguiçoso de quem se pergunta o porquê. Uma dessas perguntas sem respostas, que servem apenas pra saber que naquele momento ela não representa seu íntimo.

E todos os dias seguem como música, como novela com trilha sonora, cada momento tem seu tom, cada desgaste tem seu lamento, cada sorriso, um hino. E claro que engasga em palavras não ditas, em lições não dadas, alforrias não proclamadas e inteligências reprimidas. O mundo não era um lugar de sinceridades, e ela sabia. No mundo, a música se mantém na mente, como um mantra que não te deixa enlouquecer. Porque o mundo é silêncio.

Mas as sextas-feiras, não. Às sextas-feiras seguia para o bar local de poucas luzes e muitos sorrisos. Lá todos os silêncios reprimidos eram temas de amor. Lá seu sorriso era limpo e honesto, seu sexo não era leviano, sua sinceridade era acatada e sua amada lhe caía aos ombros, serena e calma, como uma lua no céu. Porque o mundo pode ser silencioso, mas refugia esconderijos de barulhos, desses que te salvam a alma até mesmo de si. E num desses mocós de felicidade estava a dela, que naqueles momentos a vivia com certa satisfação, um orgulho de viver digna e no proibido, escondida no âmbar de uma esquina qualquer.

Anônima de si, todos os dias segue. Um eu que vive e não volta pra casa, fica lá. Quem segue é só a sobrevivente, a que resiste e não morre. A que cala, a que esquarteja, a mão cega que executa antes que o coração perdoe - outra música dos dias vazios. Mas não esquece de si. Todas as sextas vai encontrar-se no bar de luz âmbar e sombras acolhedoras. Lá sua serenata é alta e sua música externada. Lá a palavra é dita, toda a verdade é suportada. Lá o mundo é de verdade. Depois volta pro mundo que não existe, não sabe não voltar. Mas não se esquece de si.



Canção pra não voltar
A banda mais bonita da cidade




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mina de Sampa

O que acontece é que todos os dias nada acontece, e nada é muito, muito vazio! Alguém aqui já percebeu como o nada e o vazio são pesados? Deveriam ser leves, um vácuo existencial, mas não são. O nada é cheio de algo que não sei bem o quê, e pesado. É pesado, e sobre o peito, não nos deixa arfar. O vazio quase explode, tão cheio de angústia que é. É engraçado chamar o vazio de vazio: ele é entupido de nós mesmos! Sentir vazio é estar cheio de si. Sentir que nada acontece é aguentar o peso do mundo em seu peito. Isso deve ser culpa! Talvez seja medo...

Estava no meu twitter matinal e vi um comentário de Rita Lee: "Impaciência é sinal de pressa, pressa é preocupação, preocupação é medo, medo é o pecado original". Li sem querer, não a sigo pra não encher minha TL, mas a amo. Rita Lee não é desse mundo, fato! Vi o comentário pq hoje é aniversário de São Paulo, não há como pensar em um sem lembrar de outro! Sem contar que uma amiga mandou o clipe "As minas de Sampa" e a lembrança de que sou uma. Gosto de São Paulo e o anonimato que ele me proporciona. Uma cidade cheia de vazios, e com isso eu me identifico.

Odeio ter medo. Sim, o medo me preocupa, me acelera, me impacienta, me deixa ansiosa. Ansiosa! Há quem me defina como tranquila, eu me defino como tranquila, mas é uma máscara. Sou ansiosa, e vivo em pecado. Pecado da preguiça, da gula, da avareza, da luxúria, da ira, da inveja e soberba. Agora Rita Lee me arrumou o pecado do medo, oito pecados que fazem de mim o que eu sou, esse congestionamento de nadas infinito.

Oito! Oito me lembra mesmo o infinito, todas as possibilidades inexistentes, como um céu brilhante e intocado. Adoro céus estrelados. Aquele tapete de céu que nos afixa o olhar e apaixona. Tenho uma relação eterna e perfeita com o céu. Está lá para sempre pra mim, pq sei que é intocável a todos. Ninguém pode estragar, qq um pode tê-lo também, mas será sempre o meu imaculado céu, base das virtudes do mundo e guardião de meus mais secretos segredos e silêncios - aqueles que nem mesma eu vasculhei.

Ironicamente o número 8 representa o que está em equilíbrio: a Justiça! Anúbis julga os mortos através de uma balança: de um lado o coração do iniciado, do outro uma pena. Ah, Anúbis, não julgue meu coração. Sua pena voaria tão longe que alcançaria minhas estrelas. Não as tire de mim, não as macule! Até seria bacana ter uma constelação em forma de pena, virar uma figura mitológica intocada, mas não agora.

Agora eu quero descer ao Anhanguera, virar ponto na multidão, talvez ser assaltada, talvez beijar na boca, correr pra República a noite e ver Ney Matogrosso. Hoje é dia de São Paulo, bebê. E eu sou uma Mina de Sampa!




 

sábado, 21 de janeiro de 2012

É o amor, c'est la vie!

"É o amor, c'est la vie, só você me trouxe aqui...". Hoje lembrei do comercial da coca-cola, um elefante nadando, atravessando o mar em busca de sua coca-cola amada. Era um comercial lindo! Adoraria ter uma coca-cola pra amar, alguém pra chamar de coca-cola. Alguém que me saciasse. Por que nada completa, nada basta, nada me alcança, e estou farta de tentativas vis, fúteis e desgastantes.

Hoje estou aqui com Lambão deitado encostadinho em minha perna. Ele está dormindo tão gostoso, que sinto seu alívio em estarmos só nós dois. Chove lá fora! A semana foi complicada pra ele. Domingo apareci com um filhote de cachorro, uma namorada e um sobrinho. Ele ficou bastante escandalizado, mas observava tudo quieto. Via com bastante curiosidade ao filhote que corria feliz pela casa, era atento a tudo, mas indiferente. Não participava da felicidade da casa. Acho que somos parecidos, Lambão e eu: vemos atentos, estamos lá, mas não participamos. É um dom do alheismo que nos permite a inteligência e os golpes certeiros. O cachorro se foi, a namorada, o sobrinho. Estamos aliviados.

Estar armado é como ter um terceiro olho pronto pra atirar. A arma vai onde seus olhos vão, vira onde seus olhos viram, observa os seis lados a sua volta. Tenho seis lados, como um cubo. Cada lado tem um eu de mim, que me torna oposta de mim mesma. Como num dadinho de jogar, a soma de meus lados opostos forma 7, como meus infinitos eus, incógnitos e variados, como meu número cabalístico. Sete é a soma de três e quatro, números fortes. Quatro é um número de reinício, renovação, e tô com ele e não abro. Cada um tem de mim o lado que merece!

Enquanto lia as novidades dos amigos no facebook, lembrei não sei porque de uma música da Cássia Eller: 1 de Julho. "Não basta o compromisso, vale mais o coração. E já que não me entendes, não me julgues, não me tentes". Ela nunca entendeu nada, e não a culpo por isso. Foi equivocada no modo de agir, de mentir, mas não a culpo por isso. Discursou aos meus amigos que eu não estava plena no relacionamento enquanto tinha outro, mas também por isso não a culpo. Me culpo por ter cedido as tentativas da pessoa errada, só por não saber qual é a certa. É difícil saber o que esperar da vida: ela também tem seis lados de soma oposta sete, e nem sei em que lado estou.

Lambão deitado aliviado em minhas pernas: estamos cansados. Passei a semana em um stand de tiro, 500 disparos e mais alguns. Os mais alguns foram de alma, não tenho medo de acerta-las em cheio, nem pena. Aprendi que se sacamos a arma, é pra matar. Não existe tiro de alerta. Claro que não saio pela vida de arma em punho. Até diria se saio de peito aberto, e deixo a vida viver. A vida deve ser vivida solta, cada um que saiba o que faz. Estar armada significa apenas que sabe eliminar quem apresenta risco iminente. E um único tiro basta, é certeiro, não é pra ficar fazendo barulho, nem sujeira. Um único tiro, a saída a francesa, e não se olha pra trás.

Enfim, "alguma coisa aconteceu, do ventre nasce um novo coração". Dia 16/01 foi meu aniversário, estou renascida, o ano começa, o ar que entra não é mesmo ar que sai. Vi num filme lindo que adoro, A Excêntrica Família de Antônia, que “o tempo não cura feridas, mas alivia a dor e embassa a memória”. Quem me conhece sabe que tenho péssima memória (e em todos os meus seis lados de soma oposta 7). 
Fato que não a amava. E peço desculpas por ter tentado sem amor.




segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Despetalando

E estou aqui, despetalando. Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal me quer...

Ah quem me chame de flor! Prefiro ainda a definição de cebola, mesmo que hoje sinta caindo pétalas sedosas e tristes. Sim, feri o cravo, mas saí despedaçada. Uma ironia em cantiga da vida moderna.

Passei o Natal nos meus avós, como sempre! O de sempre, mas pensava nela, e isso era diferente. Pensava em muitas coisas além, em como não conheço minha cidade natal, muito mais por "Éramos Seis" e pelas fantasias coloniais que tenho quando vejo suas estreitas ruas de paralelepípedo.

Aqui em São Paulo tem uma livraria que gostava muito de frequentar, meio comuna, um tanto de esquerda, que até agra minha lembrança imaginativa pensava ficar na Barão de Itapetininga, mas não, pasme. Esta fica perto da República, a livraria é perto da Augusta... uma pena!. Mas entre a Augusta e a Frei Caneca tem um bar ótimo: Barão de Itararé. No cardápio tem frases e passagens da vida deste boêmio-autor, inteligente, sacado e bem humorado. Aí eu fico pensando: nem ligaria de ser Itarareense. Me identifico!! O mesmo digo do Salve Jorge, um ótimo bar em frente ao Bovespa, com o melhor chopp Brahma Black que conheço e frases sacadas pro santo, com direito aos 10 mandamentos da boemia. Ai, ai, São Jorge, me empresta o dragão.

Ogum foi o primeiro orixá a descer aqui pra terrinha. Cabra macho esse Ogum. Eu não descia!!! Venho aqui pq to pagando, é carma em cima de carma, notinha por notinha, pague uma e ganhe duas! Meus carmas mais parecem dívida externa no plano cruzado! Mas sou pobre da classe CDF, pago tudo, devo nada pra ninguém. E se eu to pagando, me banco, se me banco, me basto, se me basto sinto sua falta!

Sinto sua falta, não posso esperar tanto tempo assim! É um tic-tac do amor. Eu consigo escutar aqui em meu peito: tictac, tictac, tictac, talvez o amor tbém tenha relógio biológico. Ou talvez seja uma bomba relógio: decifra-me ou te devoro! Eu aqui despetalando tudo, tentando marcar o passo, acertar a senha, chegar ao fundo, e de repente tudo aos ares no segundo seguinte: é a vida!

Mas tenho urgência! Que disparem todas as bombas, que exploda meu coração, que toquem os sinos, anunciem o final dos tempos, quem se importa?: tenho urgência. Urgência da certeza, do sentir, do pegar. Tenho urgência de realidade, mesmo sabendo que toda chaminé tem fuligem e que toda cebola faz chorar. Chore mundo, eu me despetalo. Bem me quer, mal me quer, mas queira!