segunda-feira, 5 de março de 2012

Paca, tatu, cotia não!

E a capivara me fez escrever. Vi uma morta na entrada de São Paulo, logicamente atropelada, o sangue rosado escorrido das narinas, e um rapaz tirando uma foto com seu celular, talvez abismado com aquele bicho estranho. Senti pena. Pena pq o bicho sobreviveu ao rio sujo, à fome, às doenças. Deveria ter sentido pena do rapaz que tirava a foto: por não ter tido infância, por não ter respeito, mas por ele sinto certa indiferença infame.

Não me importa que pessoas morram. Num crescimento endêmico como o nosso, morrer é comum como respirar. Digamos aí que somos já 7 bilhões no planeta, de todos os sexos, cores e raças, nascemos e morremos aos milhares e isso não muda os números, nem a vida que segue. Não me importo que relacionamentos acabem, o próximo é sempre melhor. Sempre! Mas os bichinhos inocentes perdidos nesse mundo besta, ah, isso me choca!

E continuei meu curso indignada com as mortes bestas provocadas por uma vida sem sentido. Alguém vê sentido em alguma coisa? Nós continuamos a vida pq a vida condiciona, catequiza, mas eu duvido que alguém viva por entender o sentido do viver. Admito viver em uma Matrix, admito que não entendo o universo em que estou inserida e que faço parte da massa que mantém a estrutura atual funcionando. Minha vida é voltada a manter o estado das coisas, e disso sinto orgulho e culpa. L'etat c'est moi, represento sua vontade, os interesses sociais, e minha função é causar a sensação de segurança e normalidade. Sensação! Abstrata como o Estado, abstrato como vc e eu.

Mas não podemos cotiar - eu adoro! Adoro mudar de idéia, enjoar do que to fazendo, deixar pra trás. Talvez por saber que vou mudar, penso muito pra tomar decisões. Não por insegurança, mas por pena das opções preteridas. Sempre tenho ótimas opções a fazer. As vezes faço escolhas e vejo as outras opções se desfazendo na inexistência. É como abortar possibilidades, coisas que poderiam ser e não foram. Adoraria que os universos paralelos existissem. Assisti "o efeito borboleta", não compro pra não enlouquecer, mas adoraria que essa realidade fizesse parte da ficção que vivo hoje.

Adotei mais um gato, filhote, e Lambão adorou. Emburra muito, mas pulam e correm pela casa toda numa felicidade só. Isso sim é real e tangível, diferente de qualquer possibilidade de escolha que façamos.

Gosto de fingir que faço escolhas. Essa semana viverei uma, um pedacinho de universo paralelo, só pra sentir que estou viva. Sensação. Estar viva também é abstrato!





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